Clara Lila Gonzales
de Araújo
Ação edificante e duradoura
A
passagem em destaque, contida na “Parábola do Semeador”, se expressa na ação da
evangelização espírita infantojuvenil, no seu sentido amplo: semeiam os
evangelizadores quando trabalham em benefício da divulgação do Espiritismo;
semeiam as crianças e os jovens, ao serem evangelizados, na busca da segurança
moral e do amor, indispensáveis à felicidade do ser; semeiam os pais ao
atenderem às responsabilidades que lhes são conferidas nos cuidados a se ter
para com os filhos, encaminhando-os às escolas de evangelização; e semeiam os
dirigentes espíritas, ao avaliarem a importância dessa tarefa nobilíssima, que
é desenvolvida e organizada nas unidades fundamentais do Movimento Espírita,
que são: os centros, os grupos e as demais instituições.
O Espírito Emmanuel, em mensagem
psicografada por Francisco Cândido Xavier, no ano de 1938, e reproduzida em
Reformador de agosto de 2011, devido à sua plena atualidade,
observa:
[...] Nenhuma mensagem do mundo
espiritual pode ultrapassar a lição permanente e eterna do Cristo, e a questão,
sempre nova, do Espiritismo é, acima de tudo, evangelizar, ainda mesmo com
sacrifício de outras atividades de ordem doutrinária. A alma
humana está cansada de ciência sem sabedoria e, envenenado pelo pensamento moderno,
o cérebro, nas suas funções culturais, precisa ser substituído pelo coração,
pela educação do sentimento. O
Evangelho e o trabalho incessante pela renovação do homem interior devem
constituir a nossa causa comum [...].
Ora, a infância é a fase mais profícua
para motivar o desabrochar das capacidades e aptidões dos indivíduos
favorecendo a sua evangelização. Sobre essa asserção, os Espíritos superiores
afirmam: Encarnando, com o objetivo de se aperfeiçoar, o
Espírito, durante esse período, é mais acessível às impressões que recebe,
capazes de lhe auxiliarem o adiantamento, para o que devem contribuir os
incumbidos de educá-lo.
E concluem, em outra questão de O Livro
dos Espíritos:
[...] Os Espíritos só entram na vida
corporal para se aperfeiçoarem, para se melhorarem.A delicadeza da idade
infantil os torna brandos, acessíveis aos conselhos da experiência e dos que
devam fazê-los progredir. Nessa fase é que se lhes pode reformar os caracteres
e reprimir os maus pendores. Tal o dever que Deus impôs aos pais, missão
sagrada de que terão de dar contas [...].
É nesse período fértil que as crianças
devem receber as orientações iniciais de uma boa educação moral-cristã, que
lhes permita, na idade adulta, aplicar as leis divinas sem transgredi-las, e
que poderá livrá-las dos descomedimentos futuros a que estão submetidos todos
aqueles que não foram preparados para proceder corretamente, esforçando-se para
tudo fazer pelo bem do próximo. O homem “praticando a lei de Deus, a muitos
males se forrará e proporcionará a si mesmo felicidade tão grande quanto o
comporte a sua existência grosseira”.5 Ao analisar essa assertiva, Allan Kardec
conclui,
apropriadamente: Já
nesta vida somos punidos pelas infrações, que cometemos, das leis que regem a
existência corpórea, sofrendo os males consequentes dessas mesmas infrações e
dos nossos próprios excessos. Se, gradativamente, remontarmos à origem do que
chamamos as nossas desgraças terrenas, veremos que, na maioria dos casos, elas
são a consequência de um primeiro afastamento nosso do caminho
reto.
Desviando-nos deste, enveredamos por outro, mau, e, de consequência em
consequência, caímos na desgraça.6
Sem crer em Deus e na sua justiça, sem
a certeza da imortalidade da alma e da pluralidade das existências, sem
conhecer e empregar as leis morais, que irão nortear as responsabilidades
individuais por todos os atos bons ou maus que cometemos, determinando as
provas e resgates futuros, torna-se muito difícil a compreensão do verdadeiro
significado da vida na Terra. É preciso preparar os Espíritos encarnados, a
partir da mais tenra idade, ensinando-lhes esses pensamentos, de acordo com o
estágio de desenvolvimento e da capacidade cognitiva que apresentem, sem esperar
que cresçam desprovidos desses conhecimentos, até que se hajam esclarecidos
pelos estudos mais acurados da Doutrina e pelas experiências significativas a
serem vividas na fase adulta. Portanto, nada é mais útil para a evangelização
das pessoas espíritas do que fazê-las refletir, desde pequenas, sobre os
princípios elementares do Espiritismo, trocando as conquistas e os interesses
transitórios por aquisição de proveitos
espirituais.
Ao avaliarmos os efeitos que acarretam
a falta de cuidado dos pais na orientação religiosa dos filhos, recordamos os
compromissos assumidos por eles, pois, como adeptos do Espiritismo, “a doutrina
que professam mais não é do que o desenvolvimento e a aplicação da do
Evangelho, também a eles se dirigem as palavras do Cristo”.7 Não permitir que
as crianças frequentem as aulas de evangelização espírita-cristã, com a
desculpa de que no futuro poderão escolher por si mesmas os caminhos
doutrinários a serem trilhados, é tornar-se indiferente ao destino dos seres
que acolheram no abrigo familiar, sem lhes dar a chance de saber sobre as
coisas espirituais e de afastar-se da preponderância do materialismo: [...]
As ideias espíritas, ao contrário, são
um penhor de ordem e tranquilidade, porque, pela sua influência, os homens se
tornam melhores uns para com os outros, menos ávidos das coisas materiais e
mais resignados aos decretos da
Providência.8
Considerando-se que o egoísmo e o
orgulho prejudicam enormemente a maioria dos homens, por que não conceder aos
filhos a oportunidade de adquirirem qualidades que lhes possibilitem conquistar
a paz no cultivo da caridade legítima? É possível remediar esse mal desde cedo,
motivando os filhos para a vivência de certos deveres cristãos como fonte
primeira para o seu aperfeiçoamento no porvir? O bondoso Espírito Adolfo
Bezerra de Menezes, em comunicação obtida pela médium Yvonne A. Pereira, na
noite de 11 de agosto de 1966, no Rio de Janeiro, dá sua opinião sobre o tema,
asseverando:
O lar é a grande escola da família, em
cujo seio o indivíduo se habilita para a realização dos próprios compromissos
perante as Leis de Deus e para consigo mesmo, na caminhada para o progresso. É
aí [...], que a criança, o cidadão futuro [...] se deverá educar, adquirindo
aquela sólida formação moral- -religiosa que resistirá, vitoriosamente, aos
embates das lutas cotidianas, das provações e mil complexos próprios de um
planeta ainda inferior.
[...]9
Mais à frente, na mesma mensagem,
alerta-nos ele:
Se se descurou, porém, a educação na
primeira infância, a puberdade e a adolescência tornar--se-ão fases de
orientação mais difícil.
[...]10
Os seres humanos passam por importantes
ciclos evolutivos, procurando, na atualidade, respostas às suas indagações,
sobretudo para manter as ideias cristãs que lhes aclarem as mentes e os
sustentem em ocasiões tão críticas. Buscam a fé raciocinada para libertarem-se
dos intrincados dogmas das demais crenças, que não interpretam com coerência a
doutrina de Jesus, por não oferecerem amparo e esclarecimentos genuínos às
criaturas, levando-as a suportar melhor esses instantes de aflitivas
transições. O Espírito Emmanuel, ao falar da educação evangélica, destaca a
importância da chegada do Consolador prometido pelo Mestre para “o esforço de
regeneração em cada indivíduo”11 e justifica que a sua “palavra bate
insistentemente nas antigas teclas do Evangelho cristão, porquanto não existe
outra fórmula que possa dirimir o conflito da vida atormentada dos homens”.12
Por meio da evangelização, faremos despertar, nas almas infantis, mudanças em
suas disposições morais, diminuindo as influências materialistas e fazendo-as
pensar e sentir de outra maneira, certos de que “toda a tarefa, no momento, é
formar o espírito genuinamente cristão; terminado esse trabalho, os homens
terão atingido o dia luminoso da paz universal e da concórdia de todos os
corações”.
Revista Reformador.
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A caridade não brilha unicamente na dádiva. Destaca-se nos mínimos gestos do cotidiano.
Emmanuel