terça-feira, 26 de abril de 2011

Condições de Felicidade

Condições de Felicidade
(Joanna de Ângelis)

Como decorrência de uma visão caótica e pessi­mista da vida, estabeleceu-se que a felicidade resulta do triunfo em qualquer área e dos prazeres de rápido deleite, o que deu origem aos de natureza material, portanto sensuais, como o orgasmo, o dinheiro, o êxi­to com todo refinamento de sucedâneos, desde a alimentação aos relaxantes banhos, massagens, varia­ções de moda, frivolidades...

Apesar do bem-estar que proporcionam, cedem lugar a outros anseios, convertendo-se em tormentos — conscientes ou não — ge­radores de conflitos por competitividade, como di­ante do inevitável desgaste corporal face à idade e àdoença, às fugas espetaculosas para os alcoólicos, drogas aditivas, tabaco ou depressões profundas...

Além desses, surgem, como metas felizes, os pra­zeres emocionais, que induzem aos relacionamentos humanos, promocionais, de lideranças e representa­ções sociais, políticas, econômicas, religiosas, porta­doras de grande valorização para o ego.

Essas metas, que são gratificantes, também têm o sentido do efêmero, tão rápidos são os relaciona­mentos, e perturbadores os status humanos, que não preenchem os vazios interiores.

Somente quando há uma reciprocidade honesta nesses relacionamentos, quando o intercâmbio se expressa leal e afetivo, é que a felicidade se estabelece, visto que, do ponto de vis­ta psicológico transpessoal, ela é o amar, possuir a capacidade de amar plenamente, sem imposições nem paixões egóicas.

Esse amor não pede e sempre doa; não tenta mo­dificar os outros e sempre se aprimora; não se rebela nem se decepciona, porqüanto nada espera em retri­buição; não se magoa nem se impacienta — irradia-se, qual mirífica luz que, em se expandindo, mais se potencializa.

Porque esse amor não tem apego, nunca é pos­sessivo, portanto faz-se libertador, infinito, não se con­fundindo com a busca do relacionamento sexual, que pode estar embutido nele, sem lhe ser causalidade. O prazer que gera na comunhão dos sentidos não éfundamental, embora seja contributivo.
A saúde, nos seus vários aspectos, depende mui­to do amor, especialmente a de natureza psicológica, emocional, resultante, quase sempre dos relaciona­mentos íntimos, conjugais, como mecanismo comple­tador da harmonia pessoal. Esse contributo do amor preserva também o equilíbrio mental, sem o qual a felicidade se torna uma utopia paranóica. Nesse caso, o relacionamento proporciona um bem-estar igualmen­te físico e espiritual, já que não se pode dissociá-los, enquanto na conjuntura carnal.

Para esse amor de plenitude torna-se indispensá­vel uma entrega autêntica, sem subterfúgios, sem aparências, fazendo-se que sejam retiradas as más­caras e as sujeições.

A felicidade se estabelece quando os dois níveis — físico e mental — harmonizam-se, ensejando o prazer emocional e transpessoal. Nesse passo alcança-se, mediante a criativida­de, o prazer mental, o bom direcionamento da men­te, que consegue alterar para melhor a compreensão do mundo.

Esse sentido da vida, essa finalidade induz a sa­crifícios de bens, riquezas, relacionamentos, para a entrega à inspiração, do significado à busca da felici­dade. Tal prazer não se restringe apenas à arte em si mesma, ou à cultura, porém, à vida e aos seus valores, às realizações no campo pessoal, com vistas ao bem da humanidade, à superação do ego.

A crença indevida de que a infância tranqüila, descuidada, sem preocupações, seria um período sem traumas, nem sempre cor­responde à realidade. Sem dúvida, uma infância rósea é fator positivo, porém, não essencial à felici­dade.

Nos períodos de formação da personalidade — in­fância e juventude — é comum orientar-se o educando para as conquistas externas a qualquer preço, iden­tificando os valores sociais e econômicos, não raro em detrimento da realização interior. Somente quando são estabelecidas metas de triunfo íntimo, é que se alcança a correta identificação do ser com os lídimos objetivos da reencarnação.

Nessa fase de indefinição, muitos indivíduos são induzidos a satisfazer as ambições malogradas ou vi­toriosas dos seus pais, educadores e chefes, que pro­jetam sua sombra nos filhos, alunos e subordinados, sem pensarem na realização pessoal dos seus depen­dentes.

Essa conduta é responsável por muitos conflitos, que impedem um discernimento claro do que seja re­almente a felicidade. Diante disso, a idade da razão pode apresentar-se atemorizante e perturbada por contínuas crises existenciais.

Constatar que as conquistas feitas não são pleni­ficadoras, defrauda as aspirações e tira o sentido da vida, O triunfo e o fracasso externo também produ­zem a mesma frustração e incompletude. Nesse período, a constatação do tudo efêmero impulsiona o ser na direção da felicidade, e é nesse nível de consciência que a busca alcança os patama­res elevados do amor desinteressado, da paz íntima e da realização espiritual, que são as condições es­senciais para culminar no encontro.

A partir daí, a reflexão se torna freqüente, a ora­ção faz-se natural e a meditação é um reconforto nor­mal. Amadurecendo, o indivíduo irradia do mundo in­terior o bem-estar e passa a fruir de felicidade. Isto não o impede de ter problemas, que passa a administrar com equilíbrio, não se perturbando, nem se deprimindo com eles.

São os problemas, solucionados, que proporcio­nam maturidade e harmonia íntima. Sem eles, como exercícios, torna-se improvável o êxito.

Texto extraido do Livro O Ser Consciente psicografado por Divaldo P. Franco, ditado pelo espírito Joanna de Ângelis

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Emmanuel