Condições de Felicidade
(Joanna de Ângelis)
(Joanna de Ângelis)
Como decorrência de uma visão caótica e pessimista da vida, estabeleceu-se que a felicidade resulta do triunfo em qualquer área e dos prazeres de rápido deleite, o que deu origem aos de natureza material, portanto sensuais, como o orgasmo, o dinheiro, o êxito com todo refinamento de sucedâneos, desde a alimentação aos relaxantes banhos, massagens, variações de moda, frivolidades...
Apesar do bem-estar que proporcionam, cedem lugar a outros anseios, convertendo-se em tormentos — conscientes ou não — geradores de conflitos por competitividade, como diante do inevitável desgaste corporal face à idade e àdoença, às fugas espetaculosas para os alcoólicos, drogas aditivas, tabaco ou depressões profundas...
Além desses, surgem, como metas felizes, os prazeres emocionais, que induzem aos relacionamentos humanos, promocionais, de lideranças e representações sociais, políticas, econômicas, religiosas, portadoras de grande valorização para o ego.
Essas metas, que são gratificantes, também têm o sentido do efêmero, tão rápidos são os relacionamentos, e perturbadores os status humanos, que não preenchem os vazios interiores.
Somente quando há uma reciprocidade honesta nesses relacionamentos, quando o intercâmbio se expressa leal e afetivo, é que a felicidade se estabelece, visto que, do ponto de vista psicológico transpessoal, ela é o amar, possuir a capacidade de amar plenamente, sem imposições nem paixões egóicas.
Esse amor não pede e sempre doa; não tenta modificar os outros e sempre se aprimora; não se rebela nem se decepciona, porqüanto nada espera em retribuição; não se magoa nem se impacienta — irradia-se, qual mirífica luz que, em se expandindo, mais se potencializa.
Porque esse amor não tem apego, nunca é possessivo, portanto faz-se libertador, infinito, não se confundindo com a busca do relacionamento sexual, que pode estar embutido nele, sem lhe ser causalidade. O prazer que gera na comunhão dos sentidos não éfundamental, embora seja contributivo.
A saúde, nos seus vários aspectos, depende muito do amor, especialmente a de natureza psicológica, emocional, resultante, quase sempre dos relacionamentos íntimos, conjugais, como mecanismo completador da harmonia pessoal. Esse contributo do amor preserva também o equilíbrio mental, sem o qual a felicidade se torna uma utopia paranóica. Nesse caso, o relacionamento proporciona um bem-estar igualmente físico e espiritual, já que não se pode dissociá-los, enquanto na conjuntura carnal.
Para esse amor de plenitude torna-se indispensável uma entrega autêntica, sem subterfúgios, sem aparências, fazendo-se que sejam retiradas as máscaras e as sujeições.
A felicidade se estabelece quando os dois níveis — físico e mental — harmonizam-se, ensejando o prazer emocional e transpessoal. Nesse passo alcança-se, mediante a criatividade, o prazer mental, o bom direcionamento da mente, que consegue alterar para melhor a compreensão do mundo.
Esse sentido da vida, essa finalidade induz a sacrifícios de bens, riquezas, relacionamentos, para a entrega à inspiração, do significado à busca da felicidade. Tal prazer não se restringe apenas à arte em si mesma, ou à cultura, porém, à vida e aos seus valores, às realizações no campo pessoal, com vistas ao bem da humanidade, à superação do ego.
A crença indevida de que a infância tranqüila, descuidada, sem preocupações, seria um período sem traumas, nem sempre corresponde à realidade. Sem dúvida, uma infância rósea é fator positivo, porém, não essencial à felicidade.
Nos períodos de formação da personalidade — infância e juventude — é comum orientar-se o educando para as conquistas externas a qualquer preço, identificando os valores sociais e econômicos, não raro em detrimento da realização interior. Somente quando são estabelecidas metas de triunfo íntimo, é que se alcança a correta identificação do ser com os lídimos objetivos da reencarnação.
Nessa fase de indefinição, muitos indivíduos são induzidos a satisfazer as ambições malogradas ou vitoriosas dos seus pais, educadores e chefes, que projetam sua sombra nos filhos, alunos e subordinados, sem pensarem na realização pessoal dos seus dependentes.
Essa conduta é responsável por muitos conflitos, que impedem um discernimento claro do que seja realmente a felicidade. Diante disso, a idade da razão pode apresentar-se atemorizante e perturbada por contínuas crises existenciais.
Constatar que as conquistas feitas não são plenificadoras, defrauda as aspirações e tira o sentido da vida, O triunfo e o fracasso externo também produzem a mesma frustração e incompletude. Nesse período, a constatação do tudo efêmero impulsiona o ser na direção da felicidade, e é nesse nível de consciência que a busca alcança os patamares elevados do amor desinteressado, da paz íntima e da realização espiritual, que são as condições essenciais para culminar no encontro.
A partir daí, a reflexão se torna freqüente, a oração faz-se natural e a meditação é um reconforto normal. Amadurecendo, o indivíduo irradia do mundo interior o bem-estar e passa a fruir de felicidade. Isto não o impede de ter problemas, que passa a administrar com equilíbrio, não se perturbando, nem se deprimindo com eles.
São os problemas, solucionados, que proporcionam maturidade e harmonia íntima. Sem eles, como exercícios, torna-se improvável o êxito.
Texto extraido do Livro O Ser Consciente psicografado por Divaldo P. Franco, ditado pelo espírito Joanna de Ângelis
***
Nenhum comentário:
Postar um comentário
A caridade não brilha unicamente na dádiva. Destaca-se nos mínimos gestos do cotidiano.
Emmanuel