A
linda simplicidade da cidade de Assis ainda hoje conserva a mesma arquitetura
das construções, que se erguem sobre uma colina de onde se avistam vastos
campos de girassóis em flor, de quando João - o Evangelista, discípulo amado do
Mestre Jesus - retornou ao vaso de carne em 1181 - e recebeu o nome dado por
seu pai de Francesco em homenagem aos franceses que este admirava e com os
quais exercia um rendoso comércio.
Seu
pai chamava-se Pedro Bernadone que empreendia freqüentes viagens à França e lá
adquiria boas partidas de pano para cardar, tosar e cortar; transportava-as
para sua terra e comerciava em franca prosperidade.
Durante
uma de suas viagens a França, a esposa, Joana Picá de Bourlemont, que ficara
grávida e já se aproximava dos últimos dias causou grande consternação geral na
cidade por ser por todos muito querida, relata-nos Frei Câncio Berri-OFM, em
seu livro "Vida de São Francisco de Assis" o seguinte fato:
"Durante
quatro dias, seu estado era de morte. A casa enche-se de gente. Todos querem
saber dela.
Eis senão quando aparece um peregrino, que ninguém antes vira em Assis. Penetra no quarto da doente, e diz, claramente, aos circunstantes: "Leve-se a senhora a uma estrebaria, onde há de nascer-lhe o filhinho entre palhas e será colocado numa manjedoura. Segui o meu conselho se quereis salvá-la. E desapareceu.
Eis senão quando aparece um peregrino, que ninguém antes vira em Assis. Penetra no quarto da doente, e diz, claramente, aos circunstantes: "Leve-se a senhora a uma estrebaria, onde há de nascer-lhe o filhinho entre palhas e será colocado numa manjedoura. Segui o meu conselho se quereis salvá-la. E desapareceu.
Admirados,
logo a transportaram para o estábulo vizinho, e lá , de fato como por encanto,
veio ao mundo gracioso menino, que descansaram sobre o feno. A mãe viu-se salva
do iminente risco de morte".
Sem
consentimento do marido, a mãe levou o pequenino à pia batismal da igreja
católica e lhe deu o nome de João.
-
Muito vulgar o nome que deste ao nosso filho, - disse Bernadone ao chegar da
França - e acrescentou: ora, João! Meu filho não é um Joãozinho qualquer, não.
Venho da França onde fiz um excelente negócio por isso ele se chamará
Francesco.
E
assim foi mudado o nome de João para Francisco que crescia e se fortalecia em
espírito.
Francisco
constantemente sonhava com visões celestiais que lhe despertavam no espírito
sentimentos crescentes de fraternidade e justiça, atualizando todo o potencial
espiritual que ele era portador.
O
objetivo de seu pai era fazer dele um esperto mercador, já sua mãe desejava
exatamente o oposto, sempre mentalmente dizia: "Ele será uma alma de
Deus".
Entrementes,
Francisco era visitado em sonhos e visões por seres celestes que lhe
despertavam os verdadeiros sentimentos de fraternidade.
Para
não aborrecer seu pai que sempre se irritava quando o via em preces e
recolhimento combinou com sua mãe que iria levar uma vida normal de rapaz.
Francisco então começou a freqüentar a sociedade, dançava, tocava alude,
declamava, fazia versos, cortejava as moças e todos tinham grande prazer e
alegria com sua presença e o chamavam de "flor dos jovens".
Pedro
Bernadone, feliz, abria a bolsa para seu filho gastar à vontade e dizia-lhe:
"Agora, sim, podes também gastar com seus pobres!"
"Agora, sim, podes também gastar com seus pobres!"
Francisco
contava então dezessete anos. Observando os cavaleiros com suas armaduras
luzidias, sentados eretos nas selas dos animais, se encantava e desejava também
ser um deles.
Em
uma noite acordou soluçando e sua mãe aflita acorreu, indagando o que estava
acontecendo, se ele estava doente.
"“Não
mãe – respondeu – não estou doente, apenas em sonho me vi na Palestina, no meio
de pessoas aflitas e doentes que me pediam a cura e me chamavam de
"Cavaleiro de Cristo".
Francisco
ainda não se apercebera da grande missão que o aguardava e ingressou como
voluntário para ir combater os invasores do Condado de Assis.
Era o
ano de 1198 quando na guerra entre Assis e Perugia, Assis foi derrotada e caiu
em poder dos perugianos. Entre os muitos prisioneiros estava o jovem Francisco
Bernadone que juntamente com os demais foi conduzido a Perugia.
Foi
encarcerado em prisão especial em decorrência dos seus ares de nobre,
juntamente com os da alta nobreza.
Ficou
prisioneiro dos dezenove aos vinte anos.
Ao
voltar a Assis ouviu um comentário que estavam sendo convocados rapazes para
defender os direitos da Igreja na Apulia. Seriam tornados cavaleiros.
Francisco
sentiu chegada a hora de realizar seu sonho de ser um cavaleiro e mais do que
depressa comunicou a seus pais, que não se opuseram.
Seria
a oportunidade de ser um herói e ganhar o título de nobre.
Mandou
preparar o enxoval completo de cavaleiro, armadura luzidia, elmo, lança,
arreios de prata para o animal.
Na
véspera da partida da tropa que se dirigiria para Apulia, Francisco foi avisado
de que um seu companheiro de armas, nobre de Assis de nome Lucius Gallo, não
participaria da expedição por ter perdido sua fortuna que fora confiscada, e
por isso, não tinha condições de adquirir uma armadura. Tendo Francisco duas
armaduras, cedeu a mais bela e melhor a seu amigo.
Nesta
noite Francisco teve um sonho:
-
Francisco, dá-me a tua mão e segue-me – disse um belo e formoso espírito.
- Com
todo respeito, senhor.
- Quê
vês, amado filho?
- Um
palácio cheio de escudos, estandartes, troféus, armaduras, lanças e tudo mais,
próprio a militares e guerreiros.
-
Sabes a quem pertence tudo isso, inclusive o palácio?
- Não
tenho a menor idéia.
-
Tudo isso é teu, amado filho – respondeu uma voz misteriosa.
O
sonho se dissipou e Francisco despertou imensamente alegre; seria não somente
cavaleiro, mas chefe de cavaleiros; daí para a nobreza seria apenas um passo.
Francisco
ao chegar a Spoleto foi acometido de grave enfermidade que o impediu a seguir
para Apulia.
Durante
a febre alta, um mensageiro encarregado de preparar Francisco para a missão com
a qual havia se comprometido antes de reencarnar, fez-se ouvir:
-
Francisco, quem te pode tornar melhor, o senhor ou o servo?
- O
senhor – responde Francisco.
-
Então por que deixas o senhor pelo servo e o príncipe pelo vassalo?
- Ó
senhor, que queres que eu faça? – responde com o coração palpitante.
-
Retorna a Assis e lá te será dito o que terás de fazer. Deverás entender o
sonho de outro modo.
Seu
corpo fremia e o suor banhava-lhe as vestes o leito. Numa sucessão de idéias
lembrou as lições evangélicas que sua mãe lhe ensinava. Uma visão de Damasco
lhe apareceu e a palavra do Cristo a Paulo se fez ouvir: "Saulo, Saulo,
por que me persegues? "...
- Ó
não, eu não persigo ninguém, antes procuro os pobres e sinto misericórdia por
eles! Ah! Sim, bem me lembro, a luz que apareceu a Paulo e disse: "Eu sou
Jesus".
-
Jesus? Jesus? – gritou – acaso, estás aqui, Jesus?
-
Volta, anjo bom que me apareceste em sonho e dize-me, por caridade que devo
fazer. Estou confuso...
"Levanta-te
e entra na cidade, onde te dirão o que convém fazer" – escutou.
-
Quem falou? Onde está quem falou? Por que não me aparece?
Neste
momento, os bons espíritos que o assistiam, ministram-lhe passes magnéticos de
recomposição de forças e energia, Francisco sente a respiração voltar ao normal
e a febre entra em declínio.
Francisco não conseguiu conciliar o sono naquela noite. No dia seguinte abandou a expedição e retornou para Assis.
Francisco não conseguiu conciliar o sono naquela noite. No dia seguinte abandou a expedição e retornou para Assis.
Os
que o viram voltar abatido e absorto, nos pensamentos que tumultuavam sua
mente, começaram a criticá-lo afirmando que ele era um menino rico e cheio de
caprichos. Tal, porém, não era a verdade.
- Que
aconteceu filho querido? Dize-me depressa, por que voltaste? – pergunta-lhe a
mãe cheia de cuidados.
Com
os olhos lacrimejantes, Francisco nada respondeu.
-
Expulsaram-te das fileiras de Gualter de Briene? Não te querem mais como
soldado de Frederico?
-
" Retorna a Assis e lá te será dito o que terás de fazer... deverás entender
de outro modo o sonho que tiveste"... Foi o que escutei quando acometido
de forte febre e que me fez voltar...
-
Sonho? Tiveste um sonho, meu filho e por causa disto estás tão mudado?
Francisco
contou então em detalhes tudo o que viveu e sua mãe lembrou da profecia que
fizera para o mesmo: "Ele será um alma de Deus"!
Após
a guerra que se abateu sobre Assis, a cidade apresentava um quadro desolador:
ruas sujas e mal cuidadas em abandono, grupo de mendigos atirados nos desvãos
dos caminhos suplicando por esmolas.
Nobres
e ricas damas da alta sociedade misturando-se com eles e atendendo-os em suas
necessidades mais frementes, entre eles um se destacava: Francisco que ao
socorrê-los, conjeturava - " Devo servir ao Cristo através da pobreza?
Será que tenho suficiente coragem de renunciar a tudo?"
Seus
pais ausentaram-se em um determinado dia a fim de assistir uma missa fúnebre na
Igreja de São Damião. Francisco começou a ouvir um vozerio que vinha da rua, e
pareceu escutar seu nome.
Correu
a janela, e surpreso avistou um grupo de mais de cem famintos que suplicavam,
lhe dessem pão.
Desceu
e pediu que o seguissem até uma panificação onde comprou-lhes pão , que comeram
até se fartarem.
Em
outra ocasião ao se deparar com um mendigo que suplicava por esmolas, pediu-lhe
que trocasse sua roupas limpas e ricas com as dele e vestiu-se com os trajes
andrajosos e mal cheirosos do pobre homem.
Ele
que sempre estava acostumado a dar, quis sentir na própria carne o que
representava a humildade de pedir, e ficou sentado esmolando, no final do dia
distribuiu com os outros mendigos o que recebera. Um dos mendigos observando-o,
comentou que ele não parecia ser um deles, este mendigo era paralítico.
Francisco condoendo-se falou-lhe:
- Se
tiveres fé, podes obter a cura agora mesmo.
O
mendigo soltou uma gargalhada. Olhou fixamente para Francisco que o fitava
ternamente e desabou a chorar. Francisco colocou a mão suavemente na cabeça do
homem e balbuciou: "Senhor, fazei de mim um instrumento de vossa
paz".
E o
mendigo ficando curado, saiu saltitando de alegria, anunciado a todos que
encontrara um santo que o curou.
Francisco
desapareceu rapidamente, misturando-se com os peregrinos.
Francisco
constantemente se dirigia a uma igrejinha de São Damião, muito pobre perto de
Assis, ali orava e depois ao sair do templo ficava sentado na escadaria
contemplando o Subásio, com suas montanhas azuis. Os pássaros se acercavam
dele, vindo aos bandos e, em torno de Francisco, ficavam revoando.
Numa
destas ocasiões em suas orações suplicou mais uma vez ao Pai que lhe mostrasse
o caminho que devia seguir e ouviu:
"
Não vês que minha casa ameaça ruir? Vai, pois, e a repara".
Francisco
no mesmo momento contemplou a igrejinha de São Damião, que de tão velha
ameaçava a ruir. Não atinando de imediato que a casa que o Senhor e referia era
a Sua Doutrina, respondeu:
“Fa-lo-ei
Senhor, de bom grado".
Então
começou uma série de providências para conseguir recursos a fim de restaurar o
velho templo.
Tirou várias peças de lã de ótima qualidade do armazém de seu pai e foi ao mercado de Foligno. Conseguiu vender tudo a bom preço. Vendeu inclusive seu belo cavalo branco.
Com a bolsa farta dirigiu-se à Igreja de São Damião e entregou ao pároco:
Tirou várias peças de lã de ótima qualidade do armazém de seu pai e foi ao mercado de Foligno. Conseguiu vender tudo a bom preço. Vendeu inclusive seu belo cavalo branco.
Com a bolsa farta dirigiu-se à Igreja de São Damião e entregou ao pároco:
"Toma
para restaurar a igreja. Deixa-me ficar contigo e começaremos logo o
trabalho".
-
Francisco seu pai é um homem iracundo. Não quero saber de brigas com ele e por
vossa culpa. Este dinheiro lhe pertence, não o tocarei.
- Nem
eu – e jogou dinheiro aos pés do padre – não voltarei para casa, ficarei
morando aqui.
Como
era de esperar-se Pedro Bernardone não concordou com a extravagância de seu
filho e foi direto à igreja munido de um chicote para reaver o dinheiro. O
encontrou ainda jogado na escadaria da igreja, recuperando-o voltou menos irado
para sua casa.
Francisco
escondeu-se em uma gruta nos fundo da igreja e aí ficou por trinta dias. A mãe
conhecendo seu paradeiro, todos os dias mandava-lhe alimentos e pedia ao Padre
que conservasse seu filho escondido.
Ao
fim deste período lembrando-se da voz que lhe disse:"Cavaleiro de Cristo,
tens medo?"
-
saiu da gruta e tomou caminho de Assis.
Sua
vestes estavam reduzidas a trapos, pés descalços, parecia não mais um rico
mancebo e sim um mendigo.
A
molecada ao vê-lo, lhe atirava maçãs podres, gritando:"Olha o doido , o
filho de Pedro Bernardone!"
Francisco
foi arrancado à força da multidão pelo pai que o levou para casa e prendeu-o em
uma masmorra, a pão e água, acorrentado.
Quando
seu pai viajou para França sua mãe o libertou.
Ao
retornar ao procurá-lo sua mulher lhe disse que o libertara e lhe dera
suficiente dinheiro para não passar necessidades.
Seu
pai decidiu apelar para as autoridades a fim de trazê-lo de volta, pois ele se
abrigara na Igreja de são Damião.
Essas
autoridades não o conseguiram, pois ele afirmou diante delas, que agora era um
servo de Deus.
Inconformado,
seu pai apelou para o bispado. Diante do bispo, Francisco cedeu e foi.
Foi
levado ao tribunal eclesiástico, onde seu pai iria reivindicar a apropriação
indébita de bens de família, e acusá-lo de expor seu nome ao ridículo perante a
sociedade de Assis.
Ao
escutar a acusação feita por seu pai, Francisco a passos o lentos recolhe-se a
um aposento contíguo durante poucos minutos, e volta ao tribunal com suas
vestes materiais nas mãos e o resto do dinheiro dado por sua mãe.
Neste
momento em que seu corpo nu se transforma em uma coluna de luz, nasce o
Francisco de Assis noivo da "Dama Pobreza" e morre o Francisco
Bernadonne, era abril de 1207 e ele contava 25 anos.
À
partir desse episódio Francisco começa realmente seu apostolado.
Compreende
mais tarde que a igreja, que a voz o concitava reformar, era a doutrina do
Cristo que estava sendo totalmente desvirtuada por aqueles que pretendiam
representá-Lo na Terra.
Em 4
de outubro de 1226 ,Francisco retorna ao mundo espiritual deixando-nos com sua
santa vida um lastro de luz.
Muitos
lindos episódios são contados sobre a vida de Francisco de Assis e para deles
tomar conhecimento recomendo a leitura do livro De Francisco de Assis para
você, escrito por Humberto Leite de Araújo.
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A caridade não brilha unicamente na dádiva. Destaca-se nos mínimos gestos do cotidiano.
Emmanuel