terça-feira, 4 de outubro de 2011

FRANCISCO DE ASSIS




A linda simplicidade da cidade de Assis ainda hoje conserva a mesma arquitetura das construções, que se erguem sobre uma colina de onde se avistam vastos campos de girassóis em flor, de quando João - o Evangelista, discípulo amado do Mestre Jesus - retornou ao vaso de carne em 1181 - e recebeu o nome dado por seu pai de Francesco em homenagem aos franceses que este admirava e com os quais exercia um rendoso comércio.
Seu pai chamava-se Pedro Bernadone que empreendia freqüentes viagens à França e lá adquiria boas partidas de pano para cardar, tosar e cortar; transportava-as para sua terra e comerciava em franca prosperidade.
Durante uma de suas viagens a França, a esposa, Joana Picá de Bourlemont, que ficara grávida e já se aproximava dos últimos dias causou grande consternação geral na cidade por ser por todos muito querida, relata-nos Frei Câncio Berri-OFM, em seu livro "Vida de São Francisco de Assis" o seguinte fato:
"Durante quatro dias, seu estado era de morte. A casa enche-se de gente. Todos querem saber dela.
Eis senão quando aparece um peregrino, que ninguém antes vira em Assis. Penetra no quarto da doente, e diz, claramente, aos circunstantes: "Leve-se a senhora a uma estrebaria, onde há de nascer-lhe o filhinho entre palhas e será colocado numa manjedoura. Segui o meu conselho se quereis salvá-la. E desapareceu.
Admirados, logo a transportaram para o estábulo vizinho, e lá , de fato como por encanto, veio ao mundo gracioso menino, que descansaram sobre o feno. A mãe viu-se salva do iminente risco de morte".
Sem consentimento do marido, a mãe levou o pequenino à pia batismal da igreja católica e lhe deu o nome de João.
- Muito vulgar o nome que deste ao nosso filho, - disse Bernadone ao chegar da França - e acrescentou: ora, João! Meu filho não é um Joãozinho qualquer, não. Venho da França onde fiz um excelente negócio por isso ele se chamará Francesco.
E assim foi mudado o nome de João para Francisco que crescia e se fortalecia em espírito.
Francisco constantemente sonhava com visões celestiais que lhe despertavam no espírito sentimentos crescentes de fraternidade e justiça, atualizando todo o potencial espiritual que ele era portador.
O objetivo de seu pai era fazer dele um esperto mercador, já sua mãe desejava exatamente o oposto, sempre mentalmente dizia: "Ele será uma alma de Deus".
Entrementes, Francisco era visitado em sonhos e visões por seres celestes que lhe despertavam os verdadeiros sentimentos de fraternidade.
Para não aborrecer seu pai que sempre se irritava quando o via em preces e recolhimento combinou com sua mãe que iria levar uma vida normal de rapaz. Francisco então começou a freqüentar a sociedade, dançava, tocava alude, declamava, fazia versos, cortejava as moças e todos tinham grande prazer e alegria com sua presença e o chamavam de "flor dos jovens".
Pedro Bernadone, feliz, abria a bolsa para seu filho gastar à vontade e dizia-lhe:
"Agora, sim, podes também gastar com seus pobres!"
Francisco contava então dezessete anos. Observando os cavaleiros com suas armaduras luzidias, sentados eretos nas selas dos animais, se encantava e desejava também ser um deles.
Em uma noite acordou soluçando e sua mãe aflita acorreu, indagando o que estava acontecendo, se ele estava doente.
"“Não mãe – respondeu – não estou doente, apenas em sonho me vi na Palestina, no meio de pessoas aflitas e doentes que me pediam a cura e me chamavam de "Cavaleiro de Cristo".
Francisco ainda não se apercebera da grande missão que o aguardava e ingressou como voluntário para ir combater os invasores do Condado de Assis.
Era o ano de 1198 quando na guerra entre Assis e Perugia, Assis foi derrotada e caiu em poder dos perugianos. Entre os muitos prisioneiros estava o jovem Francisco Bernadone que juntamente com os demais foi conduzido a Perugia.
Foi encarcerado em prisão especial em decorrência dos seus ares de nobre, juntamente com os da alta nobreza.
Ficou prisioneiro dos dezenove aos vinte anos.
Ao voltar a Assis ouviu um comentário que estavam sendo convocados rapazes para defender os direitos da Igreja na Apulia. Seriam tornados cavaleiros.
Francisco sentiu chegada a hora de realizar seu sonho de ser um cavaleiro e mais do que depressa comunicou a seus pais, que não se opuseram.
Seria a oportunidade de ser um herói e ganhar o título de nobre.
Mandou preparar o enxoval completo de cavaleiro, armadura luzidia, elmo, lança, arreios de prata para o animal.
Na véspera da partida da tropa que se dirigiria para Apulia, Francisco foi avisado de que um seu companheiro de armas, nobre de Assis de nome Lucius Gallo, não participaria da expedição por ter perdido sua fortuna que fora confiscada, e por isso, não tinha condições de adquirir uma armadura. Tendo Francisco duas armaduras, cedeu a mais bela e melhor a seu amigo.
Nesta noite Francisco teve um sonho:
- Francisco, dá-me a tua mão e segue-me – disse um belo e formoso espírito.
- Com todo respeito, senhor.
- Quê vês, amado filho?
- Um palácio cheio de escudos, estandartes, troféus, armaduras, lanças e tudo mais, próprio a militares e guerreiros.
- Sabes a quem pertence tudo isso, inclusive o palácio?
- Não tenho a menor idéia.
- Tudo isso é teu, amado filho – respondeu uma voz misteriosa.
O sonho se dissipou e Francisco despertou imensamente alegre; seria não somente cavaleiro, mas chefe de cavaleiros; daí para a nobreza seria apenas um passo.
Francisco ao chegar a Spoleto foi acometido de grave enfermidade que o impediu a seguir para Apulia.
Durante a febre alta, um mensageiro encarregado de preparar Francisco para a missão com a qual havia se comprometido antes de reencarnar, fez-se ouvir:
- Francisco, quem te pode tornar melhor, o senhor ou o servo?
- O senhor – responde Francisco.
- Então por que deixas o senhor pelo servo e o príncipe pelo vassalo?
- Ó senhor, que queres que eu faça? – responde com o coração palpitante.
- Retorna a Assis e lá te será dito o que terás de fazer. Deverás entender o sonho de outro modo.
Seu corpo fremia e o suor banhava-lhe as vestes o leito. Numa sucessão de idéias lembrou as lições evangélicas que sua mãe lhe ensinava. Uma visão de Damasco lhe apareceu e a palavra do Cristo a Paulo se fez ouvir: "Saulo, Saulo, por que me persegues? "...
- Ó não, eu não persigo ninguém, antes procuro os pobres e sinto misericórdia por eles! Ah! Sim, bem me lembro, a luz que apareceu a Paulo e disse: "Eu sou Jesus".
- Jesus? Jesus? – gritou – acaso, estás aqui, Jesus?
- Volta, anjo bom que me apareceste em sonho e dize-me, por caridade que devo fazer. Estou confuso...
"Levanta-te e entra na cidade, onde te dirão o que convém fazer" – escutou.
- Quem falou? Onde está quem falou? Por que não me aparece?
Neste momento, os bons espíritos que o assistiam, ministram-lhe passes magnéticos de recomposição de forças e energia, Francisco sente a respiração voltar ao normal e a febre entra em declínio.
Francisco não conseguiu conciliar o sono naquela noite. No dia seguinte abandou a expedição e retornou para Assis.
Os que o viram voltar abatido e absorto, nos pensamentos que tumultuavam sua mente, começaram a criticá-lo afirmando que ele era um menino rico e cheio de caprichos. Tal, porém, não era a verdade.
- Que aconteceu filho querido? Dize-me depressa, por que voltaste? – pergunta-lhe a mãe cheia de cuidados.
Com os olhos lacrimejantes, Francisco nada respondeu.
- Expulsaram-te das fileiras de Gualter de Briene? Não te querem mais como soldado de Frederico?
- " Retorna a Assis e lá te será dito o que terás de fazer... deverás entender de outro modo o sonho que tiveste"... Foi o que escutei quando acometido de forte febre e que me fez voltar...
- Sonho? Tiveste um sonho, meu filho e por causa disto estás tão mudado?
Francisco contou então em detalhes tudo o que viveu e sua mãe lembrou da profecia que fizera para o mesmo: "Ele será um alma de Deus"!
Após a guerra que se abateu sobre Assis, a cidade apresentava um quadro desolador: ruas sujas e mal cuidadas em abandono, grupo de mendigos atirados nos desvãos dos caminhos suplicando por esmolas.
Nobres e ricas damas da alta sociedade misturando-se com eles e atendendo-os em suas necessidades mais frementes, entre eles um se destacava: Francisco que ao socorrê-los, conjeturava - " Devo servir ao Cristo através da pobreza? Será que tenho suficiente coragem de renunciar a tudo?"
Seus pais ausentaram-se em um determinado dia a fim de assistir uma missa fúnebre na Igreja de São Damião. Francisco começou a ouvir um vozerio que vinha da rua, e pareceu escutar seu nome.
Correu a janela, e surpreso avistou um grupo de mais de cem famintos que suplicavam, lhe dessem pão.
Desceu e pediu que o seguissem até uma panificação onde comprou-lhes pão , que comeram até se fartarem.
Em outra ocasião ao se deparar com um mendigo que suplicava por esmolas, pediu-lhe que trocasse sua roupas limpas e ricas com as dele e vestiu-se com os trajes andrajosos e mal cheirosos do pobre homem.
Ele que sempre estava acostumado a dar, quis sentir na própria carne o que representava a humildade de pedir, e ficou sentado esmolando, no final do dia distribuiu com os outros mendigos o que recebera. Um dos mendigos observando-o, comentou que ele não parecia ser um deles, este mendigo era paralítico. Francisco condoendo-se falou-lhe:
- Se tiveres fé, podes obter a cura agora mesmo.
O mendigo soltou uma gargalhada. Olhou fixamente para Francisco que o fitava ternamente e desabou a chorar. Francisco colocou a mão suavemente na cabeça do homem e balbuciou: "Senhor, fazei de mim um instrumento de vossa paz".
E o mendigo ficando curado, saiu saltitando de alegria, anunciado a todos que encontrara um santo que o curou.
Francisco desapareceu rapidamente, misturando-se com os peregrinos.
Francisco constantemente se dirigia a uma igrejinha de São Damião, muito pobre perto de Assis, ali orava e depois ao sair do templo ficava sentado na escadaria contemplando o Subásio, com suas montanhas azuis. Os pássaros se acercavam dele, vindo aos bandos e, em torno de Francisco, ficavam revoando.
Numa destas ocasiões em suas orações suplicou mais uma vez ao Pai que lhe mostrasse o caminho que devia seguir e ouviu:
" Não vês que minha casa ameaça ruir? Vai, pois, e a repara".
Francisco no mesmo momento contemplou a igrejinha de São Damião, que de tão velha ameaçava a ruir. Não atinando de imediato que a casa que o Senhor e referia era a Sua Doutrina, respondeu:
“Fa-lo-ei Senhor, de bom grado".
Então começou uma série de providências para conseguir recursos a fim de restaurar o velho templo.
Tirou várias peças de lã de ótima qualidade do armazém de seu pai e foi ao mercado de Foligno. Conseguiu vender tudo a bom preço. Vendeu inclusive seu belo cavalo branco.
Com a bolsa farta dirigiu-se à Igreja de São Damião e entregou ao pároco:
"Toma para restaurar a igreja. Deixa-me ficar contigo e começaremos logo o trabalho".
- Francisco seu pai é um homem iracundo. Não quero saber de brigas com ele e por vossa culpa. Este dinheiro lhe pertence, não o tocarei.
- Nem eu – e jogou dinheiro aos pés do padre – não voltarei para casa, ficarei morando aqui.
Como era de esperar-se Pedro Bernardone não concordou com a extravagância de seu filho e foi direto à igreja munido de um chicote para reaver o dinheiro. O encontrou ainda jogado na escadaria da igreja, recuperando-o voltou menos irado para sua casa.
Francisco escondeu-se em uma gruta nos fundo da igreja e aí ficou por trinta dias. A mãe conhecendo seu paradeiro, todos os dias mandava-lhe alimentos e pedia ao Padre que conservasse seu filho escondido.
Ao fim deste período lembrando-se da voz que lhe disse:"Cavaleiro de Cristo, tens medo?"
- saiu da gruta e tomou caminho de Assis.
Sua vestes estavam reduzidas a trapos, pés descalços, parecia não mais um rico mancebo e sim um mendigo.
A molecada ao vê-lo, lhe atirava maçãs podres, gritando:"Olha o doido , o filho de Pedro Bernardone!"
Francisco foi arrancado à força da multidão pelo pai que o levou para casa e prendeu-o em uma masmorra, a pão e água, acorrentado.
Quando seu pai viajou para França sua mãe o libertou.
Ao retornar ao procurá-lo sua mulher lhe disse que o libertara e lhe dera suficiente dinheiro para não passar necessidades.
Seu pai decidiu apelar para as autoridades a fim de trazê-lo de volta, pois ele se abrigara na Igreja de são Damião.
Essas autoridades não o conseguiram, pois ele afirmou diante delas, que agora era um servo de Deus.
Inconformado, seu pai apelou para o bispado. Diante do bispo, Francisco cedeu e foi.
Foi levado ao tribunal eclesiástico, onde seu pai iria reivindicar a apropriação indébita de bens de família, e acusá-lo de expor seu nome ao ridículo perante a sociedade de Assis.
Ao escutar a acusação feita por seu pai, Francisco a passos o lentos recolhe-se a um aposento contíguo durante poucos minutos, e volta ao tribunal com suas vestes materiais nas mãos e o resto do dinheiro dado por sua mãe.
Neste momento em que seu corpo nu se transforma em uma coluna de luz, nasce o Francisco de Assis noivo da "Dama Pobreza" e morre o Francisco Bernadonne, era abril de 1207 e ele contava 25 anos.
À partir desse episódio Francisco começa realmente seu apostolado.
Compreende mais tarde que a igreja, que a voz o concitava reformar, era a doutrina do Cristo que estava sendo totalmente desvirtuada por aqueles que pretendiam representá-Lo na Terra.
Em 4 de outubro de 1226 ,Francisco retorna ao mundo espiritual deixando-nos com sua santa vida um lastro de luz.
Muitos lindos episódios são contados sobre a vida de Francisco de Assis e para deles tomar conhecimento recomendo a leitura do livro De Francisco de Assis para você, escrito por Humberto Leite de Araújo.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

A caridade não brilha unicamente na dádiva. Destaca-se nos mínimos gestos do cotidiano.

Emmanuel